Pesquisadores da FIOCRUZ e FGV apresentaram os resultados da pesquisa sobre malária e piscicultura em Mâncio Lima
Os estudos realizados em 2017 com várias famílias mostrou que o aumento dos casos de malária na cidade estão relacionados ao crescimento da atividade de criação de peixes e pelo não cuidado dos açudes e tanques para esta atividade
Com o objetivo de compartilhar com os piscicultores e outros profissionais os resultados das pesquisas sobre piscicultura e malária desenvolvida em Mâncio Lima, sensibilizá-los sobre a situação e a gravidade da malária no município e na região, e construir coletivamente ações que reduzam os riscos de malária associada à piscicultura, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, Universidade Federal do Acre e da Fundação Getúlio Vargas apresentaram na última sexta-feira, 03, um relatório com os resultados dos estudos realizados.
“Essa pesquisa foi feita em 2017, com 16 entrevistados, com participação de um representante da área da saúde de Rodrigues Alves, um representante da área ambiental de Cruzeiro do Sul, um representante da área de produção municipal de Cruzeiro do Sul, um representante da cooperativa de pescadores de Mâncio Lima e 12 piscicultores do município de Mâncio Lima. Os piscicultores foram classificados em pequenos, médios e grandes produtores, cooperativados ou não cooperativados. Eles foram escolhidos por terem destaque em cada uma destas classificações e por conhecerem grande quantidade de piscicultores do mesmo nível de produção que o seu. Dessa forma, os 12 piscicultores escolhidos puderam representar uma rede de 135 piscicultores”, disse a Professora Dra. Maria Claudia Codeço, Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ.
Durante o trabalho realizado, e pesquisadores e alunos de mestrado buscaram informações referentes história da piscicultura em Mâncio Lima, histórico da cooperativa, processo de abertura de tanques, compras de máquinas, cursos técnicos na área da piscicultura, financiamentos para a produção e participação do governo (Federal, Estadual e Municipal) na piscicultura no Município.
Como principais resultados, a pesquisa demonstrou que a maioria dos piscicultores sabe como a malária é transmitida e mesmo havendo dificuldade nos serviços de saúde, eles são regulares. A grande maioria das pessoas que trabalham com criação de peixes contratam alguém para trabalhar na piscicultura, muitos têm a piscicultura como fonte de renda, a grande maioria vende os peixes na própria região do Vale do Juruá (o que demonstra a força econômica da Região) e a cooperativa de Mâncio Lima proporciona maior poder de compra da ração para os peixes (pois os cooperativados se organizam e compram a ração em grande quantidade, o que faz com que seu preço baixe), além de proporcionar maior poder de voz em instituições públicas (pois quando os piscicultores se unem, acabam se tornando mais fortes).
A pesquisa apresentou ainda as principais dificuldades como falta de ação conjunta entre as três esferas de governo (federal, estadual e municipal), a maioria dos piscicultores entra em mata ou em rio, o que acaba sendo uma prática de risco para a transmissão da malária (se não forem utilizadas medidas de prevenção, como por exemplo o uso de roupas compridas), alguns tanques estão abandonados, o que acaba se tornando grandes áreas de reprodução dos mosquitos, o elevado preço da ração, que acaba aumentando os gastos com a piscicultura, pois a ração vem de muito longe, a falta de máquinas e de equipamentos e o fim do Ministério da Pesca, diminuindo a representação dos piscicultores no cenário federal.
A principal intenção da palestra, realizada na Casa de Cultura Márcia Alencar foi repensar a malária como um problema natural da região do Vale do Juruá, que é uma região quente, úmida e com muita vegetação. Por isso, buscou-se conscientizar os piscicultores sobre as práticas de prevenção da doença, para que todos tenham uma piscicultura sem malária.
A palestra contou com a apresentação dos resultados do projeto chamado “Análise socioeconômica do território da piscicultura e da malária em Mâncio Lima, Acre”, desenvolvido pelo Professor Doutor Mário Ribeiro Alves (epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ), orientado pela Professora Doutora Claudia Torres Codeço (Fundação Oswaldo Cruz). A equipe também contou com estudantes e professores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Estiveram presentes na atividade piscicultores, a Prefeita em Exercício Ângela Valente, vice-governadora Nazaré Araújo, Ex-Prefeito Luiz Helosman, Secretaria Municipal de Saúde Joice Gonçalves e demais profissionais da área de saúde.
Jenildo Cavalcante
Assessoria de Comunicação Social
Imagens: Raphaela Barbary
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